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quarta-feira, 20 de janeiro de 2010

Poema


Enfim definitivamente só,
abro as janelas do meu peito e deixo que voem para longe os elegantes pássaros negros.
Dou por fim, liberdade aos abutres que me consumiam por dentro. Eles voam. Abrem asas longas e se dispersam no espaço.
Não sei por que, mas sinto saudades. Sinto falta do alpiste vermelho, meu próprio sangue, com que os alimentei a cada instante. Ainda me lembro... Eles voavam, se aglomeravam e discutiam por cada porção de mim. Alguns, dilaceravam-me a paz. Outros, dilaceravam-me o pudor.
Fiquei violento e cru. Assim duro, assim explosivo, assim eu te amei, te despi, te dilacerei. É que então, já era abutre como os demais.
Adquiri asas, voava, voava, voava... Cortava o vento com rapidez, descobria os céus com alegria, zombava do chão comum. Minha boca transformou-se em bico, meu gemido, em grito de mil garças. Meu olho ficou miúdo e astuto.
Comia os peixes do teu corpo, bebia a água do teu espírito com a avidez de um alcoólatra.
Eu te amei, quando pássaro. E quando abutre, mais ainda.
Agora...tudo passou. Já libertei os pássaros, pousaram longe daqui. Comem, dormem, sofrem, sei lá.
Eu, eu voltei à forma habitual. É indefinido sentir-se igual a todo mundo. Fecho as janelas do meu peito.
Autor SLLM.

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